Classes C e P na ABNT NBR 5101:2024 – Tabelas de lux, uniformidade e TI para vias mistas e calçadas

Por que este guia existe

A ABNT NBR 5101:2024 reorganizou a lógica de classificação da iluminação viária. Com foco em lux uniformidade e TI para vias e calçadas, além das mudanças ambientais e de temperatura de cor, a norma deu mais nitidez técnica para ambientes onde pedestres e veículos convivem e para áreas de deslocamento a pé.

Se o post anterior explicou o panorama geral, este aprofunda o que costuma gerar mais dúvida na prática de projeto e de compra pública:

  • Quando a via é classe C (conflito)?
  • Quando a calçada e o percurso são classe P (pedestres)?
  • Quais são os números mínimos de iluminância, uniformidade e TI?

O que são as classes C e P

Classe C – Vias de conflito

A classe C se aplica a áreas onde existe uso misto ou conflito entre tráfego motorizado e não motorizado. Em linguagem de rua: locais onde há interação constante entre carros, motos, bicicletas e pedestres, muitas vezes com cruzamentos, acessos, conversões e uso urbano intenso.

Nessas situações, a NBR 5101:2024 define requisitos por iluminância e inclui limites de TI (incremento de limiar), já que o desconforto visual pode crescer quando há múltiplas fontes e cenas visuais complexas.

Classe P – Áreas de pedestres e calçadas

A classe P é direcionada a calçadas, percursos pedonais, áreas de caminhada e locais onde o pedestre é o usuário dominante. Ela traz valores de iluminância horizontal média e mínima e, quando houver necessidade de segurança adicional, considera iluminância vertical mínima para reconhecimento facial.


Tabela de referência – Classe C (vias mistas)

A tabela abaixo resume os requisitos mínimos da NBR 5101:2024 para vias classe C.

Classe CIluminância média mínima Emed (lx)Uniformidade mínima U = Emin/EmedTI máximo (%)
C0500,3814
C1300,3814
C2200,2814
C3150,1815
C4100,1816
C57,50,1816

Como ler isso rápido:

  • C0-C1 são os níveis mais exigentes.
  • C4-C5 são menos exigentes, mais comuns em contextos urbanos de menor complexidade.
  • O TI aparece como parâmetro crítico de conforto visual e segurança em ambiente de conflito.

Tabela de referência – Classe P (calçadas e percursos)

A NBR 5101:2024 estabelece para calçadas valores de iluminância horizontal média e mínima. Quando o contexto exigir mais segurança, entram também valores de iluminância vertical mínima para reconhecimento facial.

Classe PEmed horizontal (lx)Emin horizontal (lx)Uniformidade mínima (Emin/Emed)Emin vertical p/ reconhecimento facial (lx)
P1204,00,206,0
P2153,00,205,0
P3102,00,203,0
P47,51,50,202,5
P551,00,201,5
P630,60,201,0

Observações importantes:

  • A uniformidade acima foi calculada diretamente pela razão Emin/Emed informada na própria tabela de calçadas, resultando em 0,20 para todas as classes P.
  • O parâmetro TI não aparece como exigência explícita nas tabelas de calçadas de pedestres, ao contrário do que ocorre na classe C.

Como escolher a classe correta sem complicar o projeto

Use esta lógica simples como guia inicial, antes de entrar no detalhamento do memorial e do cálculo luminotécnico:

Escolha Classe C quando houver

  • Grande interação entre veículos e pedestres.
  • Cruzamentos, conversões, entradas e saídas frequentes.
  • Ambientes urbanos onde a percepção de risco exige melhor leitura visual noturna.

Escolha Classe P quando houver

  • Calçadas e percursos principais de caminhada.
  • Áreas de uso pedonal predominante.
  • Necessidade de reforçar sensação de segurança e legibilidade do espaço.

O impacto prático para compras públicas e especificações

Na prática, essas tabelas ajudam a evitar dois erros clássicos:

  1. Superdimensionar calçadas com critérios de vias mistas
    Resultado: potência instalada maior e custo total desnecessário.
  2. Subdimensionar áreas de conflito
    Resultado: risco de não conformidade e piora da segurança percebida.

A norma também reforça a preocupação com poluição luminosa e traz limites de temperatura de cor mais restritivos, tema que influencia diretamente a escolha de modelos de luminárias para atender classes C e P.


Perguntas frequentes

1) Uma mesma rua pode ter classe C na pista e classe P na calçada?

Sim. Esse é um cenário comum e coerente com a lógica da NBR 5101:2024, já que você tem dois ambientes com usuários e necessidades visuais diferentes.

2) Preciso sempre exigir iluminância vertical nas calçadas?

Não necessariamente. A iluminância vertical mínima entra quando há necessidade adicional de reconhecimento facial, normalmente associada a trechos críticos de segurança, grande fluxo noturno ou áreas sensíveis.

3) O TI é obrigatório em todas as vias?

Pelo recorte das tabelas de referência da norma, o TI aparece como requisito explícito na classe C para vias mistas. Para calçadas classe P, a exigência é estruturada por iluminâncias horizontal e, quando aplicável, vertical.

4) A classe C substitui as antigas classificações V?

A atualização da norma expandiu e refinou a lógica de classes. O conjunto ficou mais alinhado a práticas internacionais e separou melhor os contextos de uso.


Conclusão

Se você trabalha com projetos, PPPs, especificações de edital ou uma modernização ampla de iluminação viária, as classes C e P são hoje o coração da decisão técnica onde existe convivência urbana real.

Diego Pelloso
Diego Pelloso

Engenheiro Escola Politécnica USP | MBA INSEAD França | Conselho IMD

Artigos: 80
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